Preparação.

    Eu nunca imaginei o quão difícil seria restaurar o carro. Afinal as peças são de Fusca, não?

    As peças importantes não são de Fusca. Tá bom, o motor é, e ele é importante, mas o motor não fica a mostra e mesmo ele tem suas particulariedades. Mas, cá entre nós, achar peça para Fusca está cada vez mais difícil.

    Bem, as coisas começaram assim: eu liguei para alguém que tinha peças de Puma, mas ele não tinha. Então ele me deu o telefone do Marco da Skill Emblemas que foi muito atencioso comigo e me preparou para o que vinha pela frente. Depois disso eu encontrei alguém que tinha o catálogo de peças do carro e quando ele chegou tudo estava pronto!

    Passou uma semana para acontecer tudo o que escrevi acima. Levei dois anos para passar do pronto do parágrafo acima para um quase pronto de realidade. O primeiro problema é que ninguém sabe ao certo como eram as coisas nos primeiros Pumas. Alguma alma abençoada poderia fazer um bom trabalho de pesquisa para compilar estas informações.

    No meu caso, eu partia do pressuposto que tudo o que estava no meu Puma estava errado. Depois de muita besteira fui aprendendo que eu estava errado. O manual de peças das Pumas até 76 é um bom início, mas como a minha é 73 algumas coisas já eram diferentes. Botões de painel, bolhas de farol e outras coisas eram diferentes no manual ou simplesmente não existiam.

    Então passei a pesquisar, conversar, torturar para conseguir informações. Usei um pouco de bom senso para filtrar todas estas informações e defini o que precisava.

    Quando alguém falar que a Puma dele era especial, desconfie. A maioria das Pumas não era especial, não eram diferentes, não tinham teto solar original. Ou seja, a Puma, como qualquer industria tinha um procedimento padrão que ela tentava seguir a risca.

    Não estou afirmando que não existiam Pumas especiais. Existiam Pumas Espartanas para comprovar isso. Porém, o ônus da prova é de quem afirma que é especial; e ninguém prova.

    Tudo isso para falar que a minha era especial. Bem, ela era especial para mim e tinha um detalhe desde que compramos que era diferente das outras: a manopla de câmbio com a cara da Puma. Linda! Eu só vi duas manoplas iguais: numa Espartana e numa Puma exportada. Vou mantê-la, apesar de ter comprado a original. Pelo menos era acessório da época.

    Com muita informação e pouco dinheiro comecei a comprar as peças. Dois anos depois eu tinha muitas peças, precisava de muito mais e o dinheiro tinha acabado. Então comecei a restaurá-la.

    Talvez a parte mais interessante da busca por peças tenha sido a busca por tecidos. Quando comecei eu pensei: compro uns metros de corvin, outros de carpete e tá tudo certo! Nada certo. Primeiro, porque qualquer pessoa que já entrou em meia dúzia de carros sabe que os carros usam tecidos diferentes. Depois porque a Puma tinha uma predileção por tecidos "alternativos".

    Bem, as laterais era de couro de porco, ou melhor, de corvin imitando couro de porco. Imitando mal, ou seja, o couro de porco verdadeiro era diferente. O melhor foi ir ao Brás em São Paulo procurar o tal corvin... ninguém ouviu falar em couro de porco. Bem, se você encontra um velhinho com mais de trinta anos de balcão ele conhece o couro de porco. Pelo menos você não se sente louco de pedra.

    O carpete, era bouclê preto. Fácil. Pode coitado, existe em todas as cores menos preto. Para piorar depois descobri que não bastaria simplesmente tingir de preto, pois o original não era tão duro quanto o atual. O teto era o famoso pólvora. Este muitos conhecem, mas ninguém tem. Os bancos eram... bem os bancos são um caso a parte.

    Como eu sabia quais eram os tecidos? Muita pesquisa, algumas fotos borradas, a ajuda do Felipe para mostrar como era o couro de porco e o que tinha no carro (no caso restos do carpete e o painel).

    Bom, para resumir, importei tudo dos lugares mais estranhos dos Estados Unidos. O melhor foi o tal couro de porco, que era usado para revestir bancos de ônibus de estusdantes do interior de um estado do interior do fim do mundo. Internet? Nem pensar... Com muito custo consegui um e-mail para tentar convencer uma senhora que quem falava (algum dialeto que ela não identificou) ao telefone estava falando sério. Ela não conseguia entender como alguém do fim do mundo ligou para pedir um tecido que ninguém queria mais. Meu querido primo que morava lá mandou um cheque (ela não aceitava dinheiro pelo correio...) e o famoso tecido chegou.

    Finalmente, a minha grande frustração: os bancos. Os bancos usavam um tecido chamado "frizze". Sabe estes tecidos que facilitam a transpiração e refrescam o corpo? O tal "frizze" já fazia isto há trinta anos e os poucos que usaram juraram que melhor. Só tinha um problema: apodrecia em no máximo cinco anos. Por isso que eu só vi um Puma 1973 a 1976 com o maldito tecido, já em estado lastimável, mas ali, presente. Ou seja, nem lá fora encontrei algo parecido e assim a restauração não ficará perfeita.

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